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quarta-feira, outubro 29, 2003

Ví­boras a salivar 

Queiram ou não, compreendam ou não, o futebol é um assunto tão sério como a Casa Pia, o segredo de Justiça ou as demissões de ministros. É muito mais sério do que uma eventual candidatura de Pedro Santana Lopes à Presidência da República (por uma razão simples: gosto de sorrir com as coisas sérias - na justa dose e quando se justifica, não sou propriamente patarata - e essa perspectiva não me dá vontade nenhuma de o fazer). Claro que isso da seriedade é tremendamente subjectivo, e a gravidade de certas questões que usei como termo de comparação coloca-as num patamar diferente das futeboladas. Quando digo que o futebol é coisa séria, digo que é importante, muito importante. Por isso, ando zangado com a sanha antiportista que veste de vermelho e aos remendos pretos e brancos, já para não falar das alusões ao "sistema" de verde e branco vestidas, agora menos frequentes. Ando muito zangado, pois, com um tal de Paraty [não sei porquê (convoquem os psicanalistas!), sem desrespeito pela classe, o nome sugere-me vendedor ambulante de sapatos, ou chuteiras], cuja actuação deplorável (pouco inocente, na aparência) permitiu que o Boavista-F.C. Porto se transformasse numa espécie de Batalha dos Atoleiros. Depois dos acontecimentos que me inibo de comentar detalhadamente (a expulsão de Deco por este ter sofrido uma falta que o descalçou), as víboras, à espreita, começaram de imediato a salivar. Algum nervosismo (e muito desalento) fez com que o jogador lançasse a bota, sem qualquer violência e esta eventualmente tenha tocado no árbitro (quando o fez com força, foi para o chão e na direcção contrária). Não é bonito que os jogadores reajam assim, são profissionais, patati, patatá. Mas não queiramos incutir na sociedade civil padrões de comportamento típicos das instituições militares, compreensíveis apenas para os que as integram. Se o árbitro, cuja autoridade não contesto, faz uma burrada como a que fez Paraty, é natural que os jogadores se aborreçam e de alguma forma o manifestem, desde que não recorram à violência verbal (frequente) ou física (vide PINTO, João Vieira). Ora, o gesto da chuteira foi absolutamente inofensivo e (vejam as imagens de olhinhos abertos), creio eu, mais marcado pelo desconsolo do que pela agressividade. Por tal, quando se põem para aí a falar na possibilidade de meses ou anos de castigo, fico muito, muito, muito irritado. Querem, à força toda, construir um sistema que os favoreça, já que não vão lá inventando, aos berros, um outro que alegadamente os prejudica. O futebol é importante porque toca (muit)as pessoas profundamente, porque as enche de uma paixão sanguínea, visceral. Os que não conseguem ganhar jogando [já reconhecem todos, publicamente, que o F.C. Porto é (eles dizem "está") superior], andam agora a criar esquemas ilegítimos para pôr fim ao desequilíbrio. Andam desesperados. E há exemplos. Há tempos, em Lisboa, um conhecido meu jantava num restaurante muito frequentado por benfiquistas de alta patente (seja isso o que for) e lá esteve perto de um grupo de gente conhecida. Ao que me contou, um deles era Bagão Félix, já ministro, que, dando murros na mesa, vociferava: "O problema não é eles ganharem. O problema é os nossos filhos já serem portistas!...".

segunda-feira, outubro 27, 2003

Olhares erectos 

Surpreendo, de passagem, parte de um diálogo entre duas jovens universitárias, em momento de partilha de segredos sentimentais. Diz uma, com audível dose de desconsolo na entoação: "Para já, ainda não passámos de olhares fálicos". Compreendo rapidamente a metáfora. A moça queria dizer olhares penetrantes.

sábado, outubro 25, 2003

Rapidinha de reencaminhamento 

Motivos e solicitações várias têm feito com que eu descure a manutenção deste blog (não é desistência nenhuma), pelo que peço desculpa aos eventuais leitores. E esta fracção de segundo que aqui estou a gastar destina-se, apenas, a reencaminhar-vos para outro sítio. Atendendo à fantochada a que se está a assistir (e a outras, claro), vale a pena ler este texto.

domingo, outubro 19, 2003

Sessão de esclarecimento 

Às vezes, é preciso repetir, especialmente quando duvidamos que nos tenham entendido. A frase "tou-me cagando para o segredo de justiça" não me aquenta nem arrefenta, até porque sou um gajo do Porto, onde, como saberão, é religiosamente respeitada a faceta obscura do léxico. Agora, creio certo que, quando se exige aos titulares de cargos públicos que, além de sê-lo, tenham de parecê-lo (há aqui muito de hipocrisia, pois há), o mesmo deve ser feito em relação aos líderes de partidos políticos, supostamente constituídos em alternativa de governo. Quando eu digo que talvez Ferro devesse bater com a porta, digo-o porque me parece difícil que se livre do ferrão que agora o fere, auto-infligido com a colaboração da voracidade mediática. Digo-o porque me cansa o choradinho das cabalas, mesmo parecendo óbvio - muitas vezes - que é verdadeiro. Mas defendo, sem hesitar, que o PS deve continuar (?) a orientar-se, até onde consiga, para a esquerda, demarcando-me em absoluto da tendência dominante na blogosfera. É curioso, por exemplo, lembrar que, na semana que passou, a RTP, ao publicitar a entrevista ao cardeal-patriarca de Lisboa, chamasse a atenção para o documento episcopal que enumera os "sete pecados sociais" (um documento justo e pertinente, diga-se), questionando depois: "Estará a Igreja a virar à Esquerda?".

Não, não sou de Direita.

sábado, outubro 18, 2003

Poesia de fina água dos Super Dragões, no rescaldo do Belenenses, 1-F. C. PORTO, 4 

Versão corrigida

É o número dez
Finta com os dois pés
É melhor que o Pelé
É o Deco, allez, allez

(tinha esquecido que o Deco é melhor que o Pelé; ou seja, estava a ser incompetente na minha cegueira de fanático)

Defecando 

Hoje, tou-me cagando para esta coisa da política. Estaria preocupado, isso sim, se o Belenenses-F.C. Porto fosse uma hora mais cedo e, eventualmente, a RTP interrompesse a transmissão por causa de uma conferência de Imprensa qualquer em prime-time, exterior filmado para as bandas do Largo do Rato, por exemplo. Tou-me cagando, porque o nosso nível de habituação à palhaçada pública atingiu um grau tão elevado que resulta, inevitavelmente, em desinteresse. A situação, patética, tem muitas leituras. Só quem sofre de prisão de ventre crónica nunca cagou, mas, por outro lado, é para lá de improvável que tenha sobrevivido. Só quem tenha nascido e vivido num convento, ou meio familiar similar é que é incapaz (ou talvez não) de dizer, em conversa com um amigo, ou correligionário, "tou-me cagando para o segredo de Justiça", tal como o poderia fazer para a Direcção-Geral das Contribuições e Impostos, o Movimento Democrático das Mulheres ou a Santa Madre Igreja. A frase até pode ser, no devido contexto, absolutamente inócua. Mas, se um ministro cai por contar uma anedota sobre a morte de insuficientes renais em Évora, também um líder partidário pouco tem onde se segurar depois de dizer que caga, ou cagou, num momento específico e sob purgantes circunstâncias, para o segredo de Justiça. Porém, a palhaçada começa, justamente, na divulgação das escutas telefónicas, supostamente arrumadinhas e guardadinhas sob o tal sacrossanto segredo (o de Justiça, não o de Fátima), divulgação essa feita (suponho eu, supomos todos) com claros objectivos estratégicos, de tal forma a grandeza de princípios parece afastada do exercício da política (claro que as suposições implicam a possibilidade de erro...). É triste que sucedam coisas destas. Poderá mesmo ser uma perfeita injustiça. Mas Ferro Rodrigues e o PS podem prejudicar-se, seriamente, se voltarem a optar pelo discurso da vitimização e da cabala. Quando houver eleições, toda a gente se lembrará que aquele senhor defecou em pleno segredo de Justiça, hesitando na hora de fazer a cruzinha. Para mais, haverá sempre quem tenha a preocupação de avivar a memória dos cidadãos. Aprendam os senhores políticos, portanto, que, quando se é desbocado, nem sempre é suficiente tapar a boca com uma rolha, pois os problemas podem, também, desaguar na outra extremidade do aparelho digestivo. É pena que aconteçam estas coisas. Não gosto de dizer que este é um país de merda, mas é verdade que vai tendo uma vida pública bastante merdosa. Ao secretário-geral do PS (pelo menos), mas valia dar a tal conferência de Imprensa em prime-time, para dizer que dava a vaga. Mas que interessa isso? Hoje, tou-me cagando. Quero é que o Porto ganhe.

quarta-feira, outubro 15, 2003

Álvaro de Campos não sabe blogar 

O que há em mim é sobretudo cansaço

E por aqui fica, hoje, o Cerco do Porto. Amanhã, assegura o Instituto de Meteorologia, o Sol voltará a nascer.

Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.

terça-feira, outubro 14, 2003

Tempo 

Como é possível que uma revista que faz uma reportagem tão ridícula seja tão prestigiada? Menos comentários ainda merece a euforia em Portugal a respeito do assunto. Há assim tanta falta de notícias para que se dê tamanho relevo a um trabalho jornalístico medíocre?

Mulheres de Timor 

Sem mais, recomendo que vão vendo as fotos do João Paulo Coutinho.

Nós, o Estado 

“O Estado não tem dinheiro; o dinheiro é dos portugueses!”

Ouvida ontem, num debate televisivo, a afirmação de um homem que se apresentou na qualidade de pai, de pai de uma estudante do Ensino Superior, é paradigma dos equívocos em que a sociedade (portuguesa? ocidental? filo-americana?...) mergulhou. Equívocos gerados pelo individualismo, pelo instinto animal de sobrevivência que este mundo competitivo incute em tanta gente, aniquilando antes da nascença qualquer possibilidade de vivência solidária.

Ora, se eu sou português, devo concluir que o dinheiro é meu e, mais do que deixar imediatamente de pagar impostos, exigirei com todo o vigor que o Orçamento de Estado contemple um subsídio pessoal a depositar na minha conta bancária, pelo que de imediato enviarei o NIB à ministra das Finanças. Antes fosse!, sussurro aos ouvidos dos botões, mas obrigo-me, sem esforço, a reconhecer que o tal dinheiro é de todos nós, embora na mão do Estado, que, como já aqui escrevi, mais não é do que a forma de nos constituirmos enquanto um todo de interesses e vivências comuns. Ou, nas palavras de José Barata Moura, reitor da Universidade de Lisboa: “O Estado é a comunidade politicamente organizada”.

Vem isto, como já poderão ter imaginado (não sem esforço), a propósito da questão das propinas. E justifica-se perante o princípio de que esse todo que nos enforma (que nós enformamos) existe para promover bem-estar e não para estar bem, para estar aliviado. Ou seja, por mais demonstrada que esteja a inevitabilidade de o Estado-providência ser um entrave ao desenvolvimento, o Estado não pode remeter-se ao confortavelmente ligeiro papel de entidade reguladora de partes que levem a cabo as obrigações do todo. Quer isso dizer que, sendo a qualificação dos portugueses prerrogativa do desenvolvimento, particularmente na realidade da Europa e do alargamento da União, o Estado deve assumir papel de relevo como entidade promotora dessa qualificação. Tal implica promover, directamente, e não apenas facilitar a promoção. Coisas similares, em tese, dada a coincidência do objectivo, mas diametralmente opostas.

É razoável pensar, reconheço, que o ensino, como qualquer serviço a que os cidadãos acedam, tenha um custo. Até o acesso à Saúde (ao Serviço Nacional de Saúde) implica o pagamento de taxas moderadoras. Porém, no caso das universidades e dos politécnicos, está muito mal esclarecido se o que se paga é o serviço ou a mera gestão corrente das instituições. Se o estudante está a pagar pelo conhecimento ou a remendar os buracos provocados por cortes orçamentais, dando x para a factura da luz, y para salários de professores e z para jardinagem. Porque o problema se resume à corrente estratégia de redução, a todo o custo, da despesa pública, resultante nesta atitude de forçar as mudanças no financiamento antes de alicerçar a autonomia, tão eficaz na obtenção rápida de resultados como desastrosa na prossecução de objectivos estratégicos. Agrada-se a Bruxelas, controlando o défice, e ainda sobram umas coroas para comprar submarinos. Mas não se incentivam verdadeiramente as melhorias qualitativas do ensino e da articulação entre a escola e outros actores sociais como as empresas, o poder local ou os promotores culturais.

É fácil dizer que as propinas não são tão gravosas como isso, particularmente quando comparadas com gastos fúteis correntes entre larga parcela da classe estudantil. Mas não é fácil, para pais sobrecarregados com as despesas de filhos deslocados (ou não) e cumpridores escrupulosos das obrigações de contribuintes (pagam por trabalhar, pagam por consumir...), entender aumentos de 140% que levam a apertar ainda mais o cinto para dar aos filhos alguma esperança no futuro. Não é intelectualmente honesto dizer que a propina resulta numa mensalidade não tão pesada quanto isso, quando os encarregados de educação (os financiadores), têm ainda de pagar transportes, alojamentos, livros, fotocópias, comida... Porque os meninos que pavoneiam os respectivos automóveis à porta da faculdade continuarão a fazê-lo. Não é a eles que dói. Dói aos que pagam e que, por terem rendimentos ligeiramente acima da carência absoluta, não tiram benefícios da precária acção social escolar que temos. Ao passo que outros, educados no espírito competitivo da fraude, usufruem de ajudas de que não necessitam. E há ainda os pouco referidos trabalhadores-estudantes, que batalham pela valorização profissional e pessoal, também com sacrifício, e pagam com todos os algarismos, além do que mensalmente dão por conta para o IRS. É justo? Se calhar, não é.

Como pode clamar-se a justiça do aumento das propinas enquanto se aceita, com um encolher de ombros, a perpetuação das fraude e evasão fiscais até ao fim dos tempos? Para onde caminhamos, quando o Estado em que nos constituímos não sabe impor a todos, de igual forma, o cumprimento das obrigações que lhes competem? Compete sempre ao cidadão médio, ao trabalhador por conta de outrem, inepto em matéria de expedientes fiscais, garantir o sustento do Estado que somos, como se de uma inevitabilidade se tratasse. Um fado. E é nesse contexto de fatalidade assumida que muitos proclamam, sem vacilar, a justiça do aumento das propinas. Proclamam-na a partir de uma visão parcelar dos problemas, de uma pressa de remediar ao invés de solucionar. E apresentam soluções risíveis, atendendo à realidade portuguesa, como a possibilidade de fazer créditos para pagar os estudos, a amortizar pelos estudantes, eventualmente, quando caírem no desemprego qualificado ou, se tiverem sorte (?), forem apanhados na teia do trabalho precário que está a ser urdida afanosamente em nome da produtividade.

Nem sempre a contestação estudantil é bem feita. Para muitos, a participação em manifestações resulta, apenas, do espírito de carneirada e da vertente festiva que associam a uma irreverência brejeira e inconsequente. É importante que os dirigentes associativos (e alguns deles são extraordinariamente válidos) saibam resistir à tentação do protesto fácil. À ilegalidade indesculpável de cortar estradas ou fechar escolas a cadeado, impondo decisões e coarctando a liberdade de escolha dos colegas.

É importante que não percam a razão, porque a luta deles é, sob muitos aspectos, justa.

sexta-feira, outubro 10, 2003

Ora bolas! 

Assim não brinco! Buá, dupla e triplamente! O que eu queria escrever, mais logo, sobre os pés de barro deste ídolo bloguístico já está aqui, com todas as letras. Para quem não saiba, jmf são as iniciais de Speedy Gonzalez em servo-croata.

Terra e fogo 

Devo estar errado, mas este blog e este podem, à vontade, ser feitos pela mesma pessoa. É o Yin e o Yang, o Deus que justifica a existência do diabo. Terra e fogo, feminino e masculino, se bem que estejamos a falar de duas aparentes mulheres, uma beata puritana e uma rata tola. Complementam-se perfeitamente. É o mais óbvio e um dos mais eficazes golpes publicitários, mesmo que uma e outra sejam diferentes pessoas. Almas gémeas, contudo.

quinta-feira, outubro 09, 2003

Enfim... 

Parece que há uns idiotas freneticamente interessados em saber quem eu sou. Durante alguns dias, facilito-lhes a tarefa.

O homem é um Mister com ó grande 

Pinto da Costa fez saber que Rui Rio não será convidado para a inaguração do Estádio do Dragão. Não há qualquer novidade nisso, mas é sempre bom que a coerência seja tornada pública.

E já que de dragões se fala, o Mata-Mouros aproveitou a afinidade clubística para honrar o Cerco do Porto com mais um prémio, que saboreio e agradeço com prazer.

Renaud, a propósito de Brel 

Brel morreu faz hoje 25 anos. E com a data termina, aparentemente, a enternecedora (enriquecedora) homenagem levada a cabo pelo Terras do Nunca. Já aqui dei a entender que o Grand Jacques tem lugar cativo na minha prateleira de afectos (quiçá anacrónica, ainda estou a quatro dos quarenta, mas sentida). Embora belga e cantor da Bélgica (ou da Flandres, com o rigor que o TdN nos ensinou), não creio dizer asneiras ao considerar Brel o maior nome da canção francesa. Outros haverá, como Brassens, Bécaud, Ferré, e tantos, e tantos... Mas nenhum me toca como Brel. Curiosamente, o que mais se aproxima, nessa forma de tocar este ouvinte, é Renaud Séchan, simplesmente Renaud na capa dos discos, que misturou a alma de rocker ao tradicionalismo da chanson, tanto na musicalidade como no cariz interventivo. É o único que me faz ouvir rock’n’roll em Francês, porque não soa piroso. Renaud afundou-se (parece recuperado, agora) na dependência da heroína, ele que tanto atacou, cantando e escrevendo, os dealers e as drogas pesadas, em canções como esta “P’tite conne”, de 1986:

P’tite conne

Tu m'excuseras mignonne
D'avoir pas pu marcher
Derrière les couronnes
De tes amis branchés
Parc' que ton dealer
Etait peut-être là
Parmi ces gens en pleurs
Qui parlaient que de toi
En regardant leur montre,
En se plaignant du froid
En assumant la honte
De t'avoir poussée là

P'tite conne tu leur en veux même pas,
Tu sais que ces charognes sont bien plus morts que toi...

Tu fréquentais un monde,
d'imbéciles mondains
Où cette poudre immonde
Se consomme au matin
Où le fric autorise
A se croire à l'abri
Et de la cour d'assises
Et de notre mépris
Que ton triste univers
Nous inspirait malins
En sirotant nos bières
Ou en fumant nos joints

P'tite conne tu rêvais de Byzance
Mais c'était la Pologne jusque dans tes silences

On se connaissait pas
Aussi tu me pardonnes
J'ai pas chialé quand t'as
Cassé ta pipe d'opium
J'ai pensé à l'enfer
D'un téléphone qui crie
Pour réveiller ta mère
Au milieu de la nuit
J'aurai voulu lui dire
Que c'était pas ta faute
Qu'à pas vouloir vieillir
On meurt avant les autres

P'tite conne tu voulais pas mûrir,
Tu tombes avant l'automne juste avant de fleurir

Et t'aurais-je connu
Que ça n'eût rien changé
Petite enfant perdue
M'aurais-tu accepté ?
Moi j'aime le soleil
Tout autant que la pluie
Et quand je me réveille
Et que je suis en vie
C'est tout ce qui m'importe
Bien plus que le bonheur
Qu'est affaire de médiocres
Et qui use le coeur

P'tite conne c'est oublier que toi t'étais là pour personne
Et qu' personne était là

Tu m'excuseras mignonne
D'avoir pas pu pleurer
En suivant les couronnes
De tes amis branchés
Parc' que ton dealer
Etait peut-être là
A respirer ces fleurs
Que tu n'aimerais pas
A recompter ces roses
Qu'il a payé au prix
De ta dernière dose
Et de ton dernier cri

P'tite conne allez, repose toi tout près de Morisson
Et pas trop loin de moi

Renaud Séchan

quarta-feira, outubro 08, 2003

Cerco torto 

Queiram os leitores desculpar o trocadilho parolo, mas "Cerco torto" é mesmo o nome de uma nova secção deste blog, criada para repor a verdade onde ela esteja alterada ou ligeiramente esboicelada. Espero, claro que esta espécie de "O Cerco errou" seja uma raridade.

Ora bem. Afinal, contrariamente ao que aqui foi escrito, a filha de Martins da Cruz não é menor. Tem 18 anos, o que, para alguns iluminados da blogosfera e arredores, poderá fazer todo o sentido, tornando a demissão do ministro um escusado sacrifício. A mim, esclareço, não faz diferença nenhuma. O homem demitiu-se, e se nisso houve algo de escusado foi tê-lo feito com vários dias de atraso.

O caso Schneidermann e Portugal 

Por todos os motivos e mais alguns, que não me ocorrem mas acredito justos, recomendo incondicionalmente a leitura deste texto.

INSÓNIA 

Noite, que em mim
Acendes a memória
Escura dos amanhãs,
Aquieta esse teu fogo
E dorme.

Sonha, noite, até ao fim.
Conta-me uma história.
Leva-me, seguro, às manhãs
De um tempo novo.
E acorda.


(associando-me, atrevido, sem convite nem qualidade, à sistemática definição da noite)


domingo, outubro 05, 2003

Mesmo sem ser acusado, mais vale prevenir... 

Não sou, nunca fui e espero nunca vir a ser antitabagista.

Ai a honra! 

Segue em força, no Abrupto, o processo de branqueamento de Martins da Cruz, apesar de o nome deste não ser citado uma só vez no texto mais recente. Tem toda a razão, no que à honra respeita. Mas sabe perfeitamente que aquilo que distingue os homens elevados não pode ser o garante de funcionamento das instituições. Ir ao Parlamento e dizer, sob compromisso de honra, que não se meteu uma cunha, não pode ser o ponto final num caso a aprofundar, a bem da democracia. Mas o problema não é, necessariamente, a possibilidade da cunha. Alguém acredita que um tão competente ministro, como se vem repetindo até à exaustão, pode ser o mais irresponsável dos encarregados de educação, permitindo que a filha menor ponha advogados a redigir requerimentos para fazer da lei letra morta?

P.S. - Não sei se é significativo, mas o chefe Durão disse, ontem, que o ministro dos Negócios Estrangeiros é o maior da rua e arredores e que iria defender tenazmente os interesses portugueses na Conferência Intergovernamental de Roma. Quererá isso dizer que, depois, será posto fora do Executivo e nomeado embaixador no tal país para onde a filha irá estudar?

Procurar e não encontrar 

A fórmula é recorrente, quando não há disponibilidade para escrever mais. Mas é engraçado ver o tipo de pesquisas, nos motores de busca, que levam pessoas de outras realidades a penetrar na blogosfera (devem fugir imediatamente, imagino). Desta vez, tenho a registar que alguém cá chegou enquanto procurava "plano operacional de uma escova de lavar roupa"... A bem da sanidade mental, nem me darei ao trabalho de tentar compreender. Mas fico curioso, por exemplo, em relação às eventuais buscas surrealistas que engrossam os contadores mais activos e publicitados cá da terra...

Agnes 

Agnes é a oportunidade perdida, o lapso do passado, perseguindo-nos – ao narrador – até chegar o estímulo necessário (uma insignificância, uma revelação, um Amir Zach) a que sigamos a nossa caminhada, livres da opressiva lembrança do passo por dar. Porque não o adivinhámos, porque o tememos, porque não era o momento, embora a memória nos tenha feito, depois, lastimar o erro de avaliação. E vivemos perdidos – vive o narrador –, tentamos a todo o custo recuperar a oportunidade, reconstruir um destino não realizado, alcançar a redenção com esse gesto em falta, o de escrever a improvável história ouvida numa improvável noite dentro de um improvável automóvel, num lugar tão improvável como a Póvoa de Varzim, dando sentido e finalidade aos perdidos (talvez por nunca terem existido) papéis de K.. Agnes é um fantasma – brilha e esfuma-se sem deixar rasto –, enquanto o escritor israelita, podendo ser homem, acaba por ser sombra do narrador, a nossa sombra, ou aquela parte de nós, do narrador, que acorda para pôr fim ao desassossego.

Realmente, os escritores devem divertir-se à grande com as fantasias dos leitores a propósito das suas obras. Esta salgalhada é uma piscadela de olho à gente do Leitura Partilhada, com uma saudação, recheada de antisportinguismo primário, ao Manuel António Pina.

sábado, outubro 04, 2003

O que faremos com esta cruz? 

Parece mais do que esclarecido que o ministro Martins da Cruz não está, nem de perto nem de longe, isento de culpas nesta história da filha empurrada para uma colocação na Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa. Dando de barato que a honorabilidade do governante está intacta, a realidade é que o requerimento foi feito com a plena consciência de que o objectivo estava para lá da lei, cuja redacção não dá lugar a equívocos ou polémicas interpretativas. Houve uma cunha? Se calhar nem houve, mas a realidade é que o exercício de tão importante cargo público implica, a cada segundo, uma conduta rigorosamente impoluta. Desse pedido condenável, dessa tentativa de ultrapassar as normas legais, resultou a queda de Pedro Lynce, culpado de um bizarro despacho, é certo, mas, sobretudo, dispensável para salvaguardar a transparência do Executivo. Tivesse o ministro da Ciência e do Ensino Superior de ir a Roma discutir a constituição europeia e ainda estaria o seu nome pregado na porta do gabinete, da mesma forma que, por exemplo, Paulo Portas tem resistido a todos os vendavais que sobre ele se abatem, pois da sua permanência depende a continuidade da coligação.

A importância de uma pasta governativa é demasiada para entrarmos num jogo de segundas oportunidades, para que uma borracha apague da folha curricular do diplomata este episódico pecadilho. Contudo, é muito provável que assim suceda. Basta, por exemplo, que o lançamento de outro facto político, manobra de diversão cuidadosamente calculada, despeje sobre o tema do momento um manto de esquecimento. Está sempre a acontecer. Os novos factos de cada dia são o alívio daqueles que, na véspera, estavam debaixo de fogo. Mas isso não quer dizer que nos conformemos com a impunidade, da mesma forma que a piedade cristã do “atirar a primeira pedra” não pode ter cabimento quando estamos a falar de atropelos à lei, feitos por protagonistas da máquina de Estado. A solução de emergência encontrada ontem não pode ser o desfecho deste caso, mesmo sendo o cargo de ministro do Ensino Superior uma espécie de trabalho precário, dada a inevitabilidade da contestação pública, ao passo que a pasta dos Negócios Estrangeiros, que não nos mexe nos bolsos nem no quotidiano, significa, geralmente, tachinho garantido até ao fim do mandato.

É curioso como o esquecimento começa a desenhar-se logo no próprio dia da bronca. Ontem, os comentadores de serviço já só falavam, a dado ponto, do problema que seria uma eventual travagem nas importantes reformas que estão a ser levadas a cabo no Ensino Superior. Fala-se em importantes e profundas reformas, muitas vezes sem se saber do que se está a falar (porque é sempre isso que acontece, uma vez por outra, quando se tem por profissão falar de tudo), e cai-se na sempiterna problemática das propinas. E fala-se das propinas da maneira mais fácil, ou seja, equiparando-as a noites de copos ou à locomoção de estudantes em veículo próprio. Esses argumentos são frequentemente válidos. Não faltam, em tempo de aulas, ruas atravancadas, nas zonas das faculdades, pelos popós dos meninos estudantes, e é verdade que muitos deles gastam balúrdios nas lides copofónicas. E causam irritação, porque, na maior parte dos casos, não sabem beber. Tal como não sabem contestar, preferindo mostrar os rabiosques ou debitar impropérios e cantilenas desprovidas de conteúdo. Ainda ontem, numa faculdade do Porto, a Direcção da Associação de Estudantes ameaçou demitir-se por discordar do Conselho Directivo. Que diabo! Se discordam, combatam, que é para isso que foram eleitos. Mas ninguém os ensina a serem combativos. Crescem no facilitismo escolar, no sucesso promovido a todo o custo só para engrossar estatísticas, e chegam à faculdade empedernidos, incapazes de lutar. Mas não são todos assim.

Todas as generalizações são perigosas, e a massificação do ensino propicia perigosas generalizações. E não é líquido que os valores estipulados para as propinas sejam justos, por mais que se façam contas e compare os montantes a pagar com o orçamento para copos do jovem comum. Quanto ao apoio do Estado a estudantes mais carenciados nem sempre funciona na perfeição. Tudo isto tem a ver com a autonomia das universidades, uma grande coisa, em parte, mas que não deve passar pelo radical desaparecimento do papel interventivo do Estado, como os nossos amigos liberais entendem que deve acontecer em todos os aspectos da vida. Além de facilitar as desigualdades e dificultar que sejam superadas, a desresponsabilização do Estado põe em causa a nossa unidade enquanto colectivo nacional. O Estado não é um papão abstracto, mas o garante da nossa identidade comum. Ora, a autonomia é gerida pelos reitores e presidentes de institutos politécnicos da mesma forma que o défice é gerido pelos ministros das finanças. Enquanto estes carregam nos impostos (no rendimento singular, que a classe média é presa fácil e garantida), aqueles limitam-se, praticamente, a cobrar propinas e a chorar pelos dinheiros públicos. E falham, clamorosamente, na procura de novas fontes de financiamento.

Experimentem, por exemplo, ir aqui e fazer uma busca de “English dictionary”. Vejam o número de vezes que aparecem referências a Oxford e Cambridge. Nunca mais acaba. Os grandes dicionários da língua inglesa (há-os para todos os gostos, da colossal obra em 20 volumes ao mais utilitário livrinho de bolso) são editados pelas universidades, não pela Verbo, pelo Círculo de Leitores ou pela Porto Editora. E significam um incalculável volume de negócios em todo o Mundo. Claro que a nossa dimensão é outra, claro que o prestígio das instituições é outro. Mas muito ganhariam as nossas universidades se aprendessem a tirar partido do mundo de Língua Portuguesa, por exemplo, através do mercado editorial. Os meios académicos fecham-se em si próprios e só timidamente se abrem à comunidade. Não faltam interessantíssimas teses (maçudas, cheias de notas de rodapé e citações dispensáveis) que, transpostas para formas mais atractivas e acessíveis constituiriam êxitos comerciais e referências para muito mais gente. E a colaboração com o tecido empresarial, está onde? Só se fala dela quando há uma presidência aberta sobre a inovação. E a promoção de eventos? E a participação cívica? Se a universidade fosse tida como uma força viva pela população que serve, ao invés de se apresentar como o refúgio de uma quantidade de bichos do buraco, facilmente seria mais lucrativa.

E vem tudo isto por causa do ministro Martins da Cruz. É claro que deve demitir-se.

sexta-feira, outubro 03, 2003

Alcoolemia 

Sem tempo nem pachorra para grandes considerações, não quero deixar o assunto em claro. É normal que um se demita e o outro fique na mesma, só porque disse "palavra de honra que não falei com o meu colega sobre este assunto"? Cada um constrói a sua verdade pública e fica à sombra dela, sem mais? Nem sequer há, entre estes artistas que nos governam, a menor ponta de solidariedade? Sabem eles o que isso é? Está tudo grosso?...

quarta-feira, outubro 01, 2003

Pois é 

O Real Madrid ganhou, por 3-1, no mesmo estádio onde o Sporting levou 4-1 e o Benfica 2-0. Claro que há diferenças entre o futebol português e o espanhol.

Mas o que me chateia é que o nosso F. C. Porto até tenha tido, ontem, dos melhores momentos que já conseguiu esta época. Só que, como é habitual nas equipas portuguesas, perdeu força anímica perante a adversidade. E a qualidade da equipa de vedetas (a equipa das Barbies, como diz um amigo de Valladolid) fez o resto. Paciência!

Fusos horários horizontais 

Não vejam nisto mais do que uma pequena provocação. Sobre a pretendida mudança da hora - pretendida pelo Governo, que eu não quero nada disso nem votei neles (isto é que é democracia!...) - escreveu-se ontem aqui, às dez da manhã, o mesmo que aqui, às dez da noite. Não sei se hei-de interpretar a coincidência como prova das energias telepáticas que povoam a blogosfera ou se já há diferenciações horárias em Portugal, em função da latitude. Há outra ideia, que me agrada mais: as pessoas do Porto pensam mais rapidamente do que as de Lisboa, mesmo que o façam um pouco tarde.

Alerta vermelho 

Alguém chegou aqui depois de procurar, no Google, "teoria da conspiração, Casa Pia". Será a Judite? O SIS? A CIA? A Redacção do 24Horas?... Não é bom, nada bom. Sinto-me apanhado na teia, não sei se irei a tempo de fugir para o Brasil...

Mas vejo que outro alguém visitou o Cerco do Porto depois de teclar no motor de busca, simplesmente, a palavra "simpatia". E volto a pôr na cara um sorriso confiante.

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